Ok, vamos por partes. Provavelmente você, assim como eu, já deve ter lido ou ouvido por aí muito sobre isso: ah! Voice Over é coisa de preguiçoso. Não coloque isso no seu roteiro, porque roteirista bom não faz isso; ele arranja um jeito de mostrar nas ações.
Então deixa eu te dizer uma coisa – Dexter (série de TV) e Tropa de Elite (filme) são dois excelentes exemplos de sucesso de público, e por consequência, de faturamento, e ambos são costurados pelos Voice Overs de seus protagonistas, e aí?
… Pois é.
Na verdade tudo depende do seu tipo de história, e dos personagens que habitam nela. Não existe “não pode”. A única regra é que tudo precisa ter um sentido para existir. Veja só:
Tanto Dexter quanto Capitão Nascimento em hipótese alguma podem abrir a boca e sair contando por aí o que pensam, porque o primeiro personagem está inteiramente ligado ao complexo desejo de assassinar pessoas, e o outro, ligado à vontade de “jogar merda no ventilador” para ferrar com o sistema corrupto, que por sinal, é assassino dos que vão contra. Logo o Voice Over faz sentido, e de modo algum é um artifício burro como muitos preferem encarar todo e qualquer Voice Over. Ou seja, use-o se necessário, mas tenha certeza de que isso é imprescindível para o seu personagem, de modo a se encaixar perfeitamente na narrativa… Como uma luva!
A propósito, escrevi e dirigi um curta-metragem, produzido pela Ancora Produções no ano de 2016 que é totalmente costurado por Voice Over, pois igualmente aos personagens citados acima, o meu personagem, e o meu tipo de história, necessitavam desse artifício. Sendo assim, felizmente o curta foi bem-sucedido em festivais e mostras, trazendo para casa alguns prêmios e elogios. Você pode assisti-lo logo abaixo:
O mesmo vale para os diálogos. Diálogo ruim é aquele burro, que não complementa a história, não complementa a ação do filme, trazendo muitas vezes informações desnecessárias que não somam à trama. Bem por isso, é preciso estudar o subtexto, e escrever até conseguir desenvolver um bom diálogo, o diálogo que soma, e não se repete ou sobra. Porém, um roteiro cheio de diálogos não é um roteiro ruim, de modo algum – mas claro, toda exposição é bem-vinda só se fizer algum sentido à narrativa.